terça-feira, 19 de agosto de 2008

Enochato


Estou preocupado com a sobrevivência dos enochatos. Baseado na declaração de todos os especialistas, revistas e colunas, os enochatos correm o risco de extinção. Todos são contra esta categoria de cidadão que procura girar sua taça, fungar profundo antes do primeiro gole e tascar uma declaração do tipo “café torrado, fumo de corda”, para incredulidade daqueles que o rodeiam. Tenho pena dos enochatos, ridicularizados, sempre citados como exemplo de como não se deve comportar um apreciador de vinho. Já reparou? Nunca ninguém é um enochato. Enochato são os outros.

Mas cá entre nós, o sujeito se esforça, faz todos os cursinhos da ABS, da Sbav, compra coleções, livros, acompanha as colunas de jornais e blogs (ei, você que está me lendo, se considera um enochato?), aguarda ansioso em casa pelos catálogos das importadoras e não pode nem se bacanear numa rodinha informal com a turma na firma? Imagine a cena. Estão todos ali tomando um Chablis, um vinho branco da Borgonha, que alguém trouxe para comemorar o bônus do final de ano e o enochato doido para demonstrar seu conhecimento. Dada hora, finalmente uma voz palpita: “Tem uma coisa que não consigo identificar aqui... um sabor...”. E nosso amigo prontamente esclarece: “É esta boca mineral, por conta do solo calcário da região de Chablis”. Todos às volta enfiam o nariz na taça, tomam um pequeno gole e a maioria aquiesce com a cabeça. É a glória do enochato. E não fez mal nenhum para ninguém. E teve até seu papel "educativo". Junte-se a esta corrente do Blog do Vinho, colabore com nossa campanha, preserve os enochatos!


Um comentário:

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