domingo, 17 de janeiro de 2010

Haiti, nunca mais...

Quantos morreram? Talvez 50 milhares de pessoas. Ou 100 milhares. Quem se arriscaria a calcular? "Inimaginável", definiu René Preval, o presidente sem teto – perdeu o palácio e a residência particular –, abrindo os braços, no meio da rua, perplexo. Os vivos vagavam como almas penadas, sem ter casa para onde voltar ou, tendo, sem coragem para entrar nela. Os que iam morrer pediam um socorro que não vinha. Na primeira noite, os gritos eram muitos, constantes, lancinantes. Aos poucos, foram diminuindo. "Hoje, quinta-feira, não escuto mais ninguém", disse a VEJA o coordenador de uma entidade assistencial, Jean Claude Fignole. "Os escombros ficaram em silêncio. Os que continuam vivos estão muito fracos para gritar. Alguns apenas ainda estão com os celulares acesos."
Fotos Logan Abasi/AP; Matthew Macgregor/AP
FORÇA SOBRENATURAL - O palácio presidencial, construído em 1918, antes e depois

Ah, os celulares. Quando a terra tremeu, a luz acabou, a água sumiu e ergueu-se uma nuvem de cimento parecida com a vista em Nova York no 11 de setembro de 2001. As comunicações se evaporaram. Mas, com o mesmo padrão aleatório típico dos terremotos – aqui um prédio intacto, acolá um que parecia Hiroshima bombardeada –, alguns celulares continuaram funcionando. O grande terremoto do Haiti foi transmitido pelo Twitter, em doses de dramática concisão. "O centro virou poeira e escombros", tuitou no primeiro momento Frederic Dupoux. Depois: "Corpos por toda parte, não vi nenhuma ambulância nem nenhum serviço médico em lugar nenhum".

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