sábado, 20 de dezembro de 2008

Natal com 'A Cabana'

Best-seller

William Young, autor do romance de sucesso 'A cabana', conta que não pretendia publicar o livro

Márcia Abos
SÃO PAULO - Um acidente levou o canadense William Young e seu livro "A cabana" (Editora Sextante) ao topo da lista de mais vendidos no Brasil e nos Estados Unidos. A obra sequer foi escrita para ser publicada. Segundo o autor, que está no Brasil para comemorar os 100 mil exemplares vendidos em dois meses, a fábula do encontro de um homem com Deus no mesmo lugar onde sua filha caçula foi brutalmente assassinada, foi escrita para ser dada de presente de Natal aos filhos.

- Minha mulher me pediu para escrever uma história como um presente. Não tive dinheiro para imprimir o manuscrito no Natal de 2005. Mas consegui depois do Natal fazer 15 cópias de "A cabana" para entregar à família e amigos próximos. Era este o único objetivo. Muito da minha história está no livro - lembrou o autor, que cresceu em Papua Nova Guiné com seus pais missionários e estudou religião em Oregon, nos Estados Unidos.


As crianças, como ele esperava, não se entusiasmaram muito. Mas alguns amigos leram imediatamente e começaram a repassar o livro para pessoas próximas. Young começou a receber e-mails de pessoas que nem conhecia dizendo que o livro impactara suas vidas. Ele decidiu enviar uma cópia de "A cabana" para um escritor que conhecia, que repassou o livro para dois produtores de cinema, Wayne Jacobsen e Brad Cummings.

Após um encontro entre os produtores e Young, a história de Mackenzie Allen Philips foi reescrita quatro vezes em 16 meses até que a versão final foi enviada a 26 editoras norte americanas, metade delas religiosa. A maioria sequer respondeu.

- As editoras cristãs acharam o livro herético. Já as que não eram religiosas acharam que havia muito Jesus. Tínhamos um livro e nenhuma editora o queria. Então Jacobsen e Cummings criaram uma editora só para lançar "A cabana" nos EUA. Resultado: há 20 semanas, o livro está na lista dos mais vendidos do jornal "The New York Times". Um fenômeno de público causado pelo marketing do boca-a-boca. Já foi traduzido para 36 idiomas e, segundo o autor, vendeu em todo o mundo mais de 4 milhões de exemplares.

Há ainda a possibilidade de "A cabana" virar filme, mas William Young é cauteloso. Ele explica que é detentor dos direitos autorais do livro, mas seis grandes estúdios estão interessados na adaptação.

- Eu não ligo para fazer um filme. Nem ligava para escrever um livro. Escrevi para meus filhos. Quero estar envolvido em coisas que Deus abençoe. Não quero mais fazer coisas e pedir para Deus abençoar porque eu acho que seja uma boa idéia. Muitas negociações estão acontecendo. Não estamos selecionando elenco. A princípio temos um diretor e um dos melhores roteiristas. Então, veremos.

O livro foi escrito após William Young ter sofrido a perda de sua sobrinha e de seu irmão. O autor conta que também sofreu abuso sexual quando tinha quatro anos. Sua relação com o pai é complicada, assim como Mackenzie no livro.

- Mack sou eu. Mas o que ele vive no livro em um fim-de-semana foi um processo que eu vivi em 11 anos.

No livro, três anos após o seqüestro e a morte de Missy, sua filha mais nova, Mack recebe um bilhete misterioso marcando um encontro na cabana onde a menina foi brutalmente assassinada. Ele vai e passa um fim de semana com a Santíssima Trindade. Contrariando todas as expectativas do personagem, Deus se personifica como uma mulher negra, grandona, que cozinha para Mack. O Espírito Santo é uma chinesa ou mongol multicolorida e volátil que cuida do jardim. Jesus é um jovem do Oriente Médio que conserta e constrói coisas. Todos pregam a igualdade, o fim das hierarquias, a liberdade e são contra a culpa, as regras e as instituições. É uma visão bastante libertária do amor, do perdão, da redenção, do sagrado e do humano.

7 comentários:

  1. Parabéns por todos esses anos de convivência, nas horas alegres, felizes e ora difíceis. Parabéns pela linda família. Deus os abençoe. Abraçãoooooooooo.

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  2. Prá mim, é a aplicação do SENTIDO DA VIDA: A Logoterapia de Viktor Frankl, onde a síntese é a tentativa do Mack encontrar o assassino de sua querida Missy para PERDOÁ-LO!

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  3. O PAPA João Paulo II quando foi perdoar no presídio seu "assassino potencial" Ali Agka, demonstrou seu desprendimento da vida terrena também!

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  4. Para quem me pediu o livro emprestado:
    "Ele não é meu, uma amiga muito querida mo emprestou e eu o devolvi no dia seguinte, pois a leitura é muito fácil!"

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  5. Agradeço o envio do artigo, é impressionante. Um grande abraço para você e a Sin.

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  6. Trecho de A Cabana, de William Young

    1 Uma confluência de caminhos

    Duas estradas se bifurcaram no meio da minha vida,Ouvi um sábio dizer.
    Peguei a estrada menos usada.
    E isso fez toda a diferença cada noite e cada dia. Larry Norman (pedindo desculpas a Robert Frost)

    Março desatou uma torrente de chuvas depois de um inverno de secura anormal. Uma frente fria desceu do Canadá e foi contida por rajadas de vento que rugiam pelo desfiladeiro, vindas do Leste do Oregon. Ainda que a primavera certamente estivesse logo ali, depois da esquina, o deus do inverno não iria abandonar sem luta seu domínio conquistado com dificuldade. Havia um cobertor de neve recente nas Cascades, e agora a chuva congelava ao bater no chão do lado de fora da casa. Motivo suficiente para Mack se enroscar com um livro e uma sidra quente, aconchegando-se no calor do fogo que estalava na lareira.

    Mas, em vez disso, ele passou a maior parte da manhã no computador. Sentado confortavelmente no escritório de casa, usando calças de pijama e uma camiseta, ele deu telefonemas de vendas. Parava com freqüência, ouvindo o som da chuva cristalina tilintar na janela e vendo o acúmulo vagaroso mas constante do gelo lá fora. Estava se tornando inexoravelmente prisioneiro do gelo em sua própria casa – e com muito prazer.

    Há algo agradável nas tempestades que interrompem a rotina.A neve ou a chuva gélida nos liberam subitamente das expectativas, das exigências de resultados e da tirania dos compromissos e dos horários.Ao contrário da doença, esta é uma experiência mais coletiva do que individual. Quase podemos ouvir um suspiro de alívio erguer-se em uníssono na cidade próxima e no campo, onde a natureza interveio para dar uma folga aos exaustos seres humanos. Todos os afetados pela tempestade são unidos por uma desculpa mútua. De súbito e inesperadamente o coração fica um pouco mais leve. Não serão necessárias desculpas por não comparecer a algum compromisso. Todos entendem e compartilham a mesma justificativa, e a retirada súbita de qualquer pressão alegra a alma.

    É claro que as tempestades também interrompem negócios, e, embora umas poucas empresas tenham um ganho extra, outras perdem dinheiro – o que significa que existem os que não sentem júbilo quando tudo fecha temporariamente. Mas é impossível culpar alguém pela perda de produção ou por não conseguir chegar ao escritório. Mesmo que a situação só dure um ou dois dias, de algum modo cada pessoa se sente dona do seu mundo simplesmente porque aquelas gotinhas de água congelam ao bater no chão.

    Até as atividades comuns se tornam extraordinárias. Ações rotineiras se transformam em aventuras e freqüentemente são vivenciadas com maior clareza.No fim da tarde, Mack se encheu de agasalhos e saiu para lutar com os quase 100 metros da comprida entrada de veículos que vai até a caixa de correio. O gelo havia convertido magicamente essa tarefa simples do dia-a-dia numa batalha contra os elementos: levantou o punho em contestação à força bruta da natureza e, num ato de desafio, riu na cara dela. O fato de que ninguém notaria nem se incomodaria com seu gesto pouco importava para ele – só o pensamento o fez rir por dentro.

    As pelotas de chuva gelada ardiam no rosto e nas mãos enquanto ele subia e descia com cuidado as pequenas ondulações do caminho. Mack se divertia pensando que parecia um marinheiro bêbado indo com cuidado para o próximo boteco. Quando você enfrenta a força de uma tempestade de gelo, não caminha exatamente com ousadia, demonstrando uma confiança incontida. Mack teve de se levantar duas vezes antes de finalmente conseguir abraçar a caixa de correio como se fosse um amigo desaparecido há muito.

    Parou para apreciar a beleza de um mundo engolfado em cristal. Tudo refletia luz e colaborava para o brilho crescente do fim de tarde. As árvores no campo do vizinho tinham-se coberto com mantos translúcidos, e agora cada uma parecia única ao seu olhar. Era um mundo radiante e, por um momento, seu esplendor luzidio quase retirou, ainda que por apenas alguns segundos, a Grande Tristeza dos ombros de Mack.

    Demorou quase um minuto para arrancar o gelo que havia lacrado a tampa da caixa de correio. A recompensa por seus esforços foi um único envelope onde havia apenas seu primeiro nome escrito à máquina do lado de fora; sem selo, sem carimbo e sem remetente. Curioso, ele rasgou a borda do envelope, tarefa que não foi fácil, pois os dedos começavam a se enrijecer de frio. Dando as costas para o vento que lhe tirava o fôlego, finalmente conseguiu arrancar do ninho um pequeno retângulo de papel sem dobra. A mensagem datilografada dizia simplesmente:

    "Mackenzie

    Já faz um tempo. Senti sua falta.
    Estarei na cabana no fim de semana que vem, se você quiser me encontrar.

    Papai"

    Mack se enrijeceu enquanto uma onda de náusea percorria seu corpo e, com igual rapidez, se transmutava em ira. Esforçava-se para pensar o mínimo possível na cabana e, mesmo quando ela lhe vinha à mente, seus pensamentos não eram agradáveis nem bons. Se aquilo era uma piada de mau gosto, a pessoa realmente havia se superado. E assinar "Papai" só tornava a coisa ainda mais horrenda.

    – Idiota – resmungou, pensando em Tony, o carteiro: um italiano exageradamente amigável, com grande coração mas pouco tato. Por que ele entregaria um envelope tão ridículo? Nem estava selado. Mack enfiou com raiva o envelope e o bilhete no bolso do casaco e virou-se para começar a deslizar na direção de casa. Os sopros fortes do vento, que a princípio haviam diminuído de intensidade, agora o empurravam, encurtando o tempo necessário para atravessar a minigeleira que engrossava sob seus pés.

    Estava se saindo bem, obrigado, até chegar à entrada de veículos, que se inclinava um pouco para baixo e à esquerda. Sem qualquer esforço ou intenção, começou a aumentar a velocidade, deslizando com sapatos que tinham praticamente tanta firmeza quanto um pato pousando num lago gelado. Com os braços balançando loucamente na esperança de, não sabia como, manter o equilíbrio, Mack se viu adernando de encontro à única árvore de tamanho substancial que ladeava a entrada de veículos – a única cujos galhos mais baixos ele havia cortado uns poucos meses antes. Agora ela se erguia ansiosa para abraçá-lo, seminua e aparentemente desejosa de uma pequena retribuição. Numa fração de segundo, ele escolheu o caminho da covardia e tentou despencar no chão, permitindo que os pés escorregassem – o que eles de qualquer modo fariam. Melhor ter a bunda dolorida do que arrancar lascas do rosto.

    Mas a descarga de adrenalina o fez compensar exageradamente, e em câmara lenta Mack viu os pés se erguerem à sua frente, como se puxados para cima por alguma armadilha da selva. Bateu com força, primeiro com a nuca, e escorregou até um monte na base da árvore brilhosa, que pareceu se erguer acima dele com uma expressão de presunção e nojo, além de uma certa decepção.

    O mundo pareceu ficar escuro por um instante. Ele permaneceu ali deitado, tonto e olhando o céu, franzindo os olhos enquanto a precipitação gelada esfriava rapidamente seu rosto vermelho. Durante uma pausa ligeira, tudo pareceu estranhamente quente e pacífico, com sua cólera momentaneamente nocauteada pelo impacto.

    – Agora, quem é o idiota? – murmurou consigo mesmo, esperando que ninguém estivesse olhando.

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  7. Tin.
    Muito bom!
    Na verdade Deus, Espírito Santo e Jesus têm uma visão socialista!!!
    Abs.
    Denis

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